Plena terça-feira, dia 23 de junho, dia normal da semana às 9 da noite e o cinema lotado, sem cadeiras vagas como se fosse um domingo à tarde disputado para um blockbuster.
Minha sorte foi ter comprado o ingresso pela internet um dia antes e mesmo assim, eram poucos os lugares sobrando e o mais engraçado, justamente um vago, sozinho, num lugar que gosto de sentar: no alto e no meio da fileira.
Estava muito ansiosa para assistir ao documentário, já tinha baixado da internet e pretendia ver agora nas férias, mas como foi exibido nos cinemas, eu preferi. Adoro aquela tela enorme que dá pra notar detalhes e o clima do cinema.
Tinha ouvido falar bem do documentário sobre o Kurt e imaginei que seria bem dentro da perspectiva de alguém que viveu a época e era fã do Nirvana, quer dizer, o que eu pensava sobre ele na época e o que só veio a se confirmar com o livro Mais pesado que o Céu e agora em imagens.
No começo dos anos de 1990 eu era só uma adolescente tentado me encaixar em algum lugar e não conseguindo. Meu primeiro passo mais forte para o rock foi o Pearl Jam, culpa de Alive que via sempre o clipe na TV. Mais forte eu digo porque eu já tinha um influência vinda dos meus tios e da minha mãe que gostava de Beatles. Então, ser fã de rock não era algo surpreendente, mas para todos era rebeldia. E qual adolescente não quer se rebelar de alguma forma?
No momento que vi o clipe de Smells Like Teen Spirit fiquei hipnotizada, não parecia ser o meu estilo, mas aquilo me tomou, aqueles jovens desajustados, se debatendo, balançando cabelos, Kurt no maior estilo largado, abandonado e "não estou nem aí" fez com que me rendesse definitivamente ao Grunge.
Não, eu não me vestia com blusas xadrez, andava de skate ou qualquer outra referência. Nunca fui o tipo de mostrar em roupas o que vem na minha alma... mas hoje uso muito mais camisetas de bandas, coisa que não fazia na adolescência, até porque, para achar uma camiseta era complicado, não tão simples como hoje que qualquer um anda com a camiseta do boneco amarelo do Nirvana e nem sabe do que se trata...
Aquela raiva expressa em música me cativou e mostrou que aquele era o meu lugar no mundo: um lugar em que minhas amigas da escola não estavam, que os skatistas e o pessoal mais antenado da escola estava, mas que eu não tinha amizade. Eu era a nerd, quem quer ser amiga da nerd?
E SLTS pra mim, fala exatamente de como eu me sentia, uma albina, um mosquito, uma nerd, aquela que é renegada e que sofre bulliyng.
Ou vocês acham minha interpretação da letra totalmente nada a ver? Bem, para alguém de 16 anos, era assim e Kurt parecia ter sido o cara que sofreu bullying ou que se sentia diferente, como eu me sentia, me sentia isolada, abandonada porque queria passar na USP, porque queria namorar o Brandon Walsh de Barrados no Baile ou o Jordan Knight no NKOTB (que contraditório rs).
E que depois de perceber que eu não ia ser a garota mais legal da escola porque não usava Pakalolo, 775 e não tinha um tênis Nike ou Reebok o jeito era ficar na minha e continuar a ler (sem entender a maioria das referências sexuais) Milan Kundera ou Umberto Eco. Querendo cada vez me afastar mais daquele mundo em que vivia... da escola, da família, do bairro que sempre odiei.
Senti muito disso no Kurt lendo a biografia e vendo o documentário: ele não se encaixava, ele se fechou pro mundo, ele tinha medo de viver e perder o que tem de bom. Ele era gênio, aplicado no que fazia, mas a retração era maior, o medo do mundo, o medo da multidão de fãs, o nojo da mídia disposta a audiência o aborrecia... e muitas vezes ele era contraditório com isso... queria ser famoso, queria mostrar seu dom, mas não queria a comoção que recebeu, não queria ser um deus. Queria apenas ser ouvido, mas não adorado... adorado falsamente pela mídia, adorado falsamente pelas pessoas.
A relação dele com a Courtney Love eu também comprei como a mídia vendeu à época: ela acabou com o Nirvana e era a nova Yoko Ono, bem, que eu saiba o Chris Novoselic e o David Grohl até hoje não falam com ela... mas as cenas de amor com a filha, principalmente, mostraram a beleza do amor que existia em Cobain, lá escondido, lá guardado. Foram as cenas em que mais chorei porque, por mais que eu entenda esse lado dele, o lado de não querer amar é o que mais fazemos: amamos demais e somos apaixonados pelas pessoas. Mal compreendidos muitas vezes, mas duvido que Frances não o compreendeu revendo essas cenas... claro que ela não duvida do amor do pai, mas infelizmente, percebeu que ele foi mais fraco e deixou as vozes em sua cabeça o dominarem... aquele diabinho que falava foi mais convincente que o anjinho e Kurt fez o que não deveria...
Até hoje rezo, faço preces pelo Kurt, ele precisava de ajuda desde muito cedo, eu também precisava ter tido essa ajuda. Pensei várias e várias vezes em me matar quando adolescente e até meus 21 anos mais ou menos. Quase bebi um vidro de perfume da minha mãe, achando que aquilo poderia dar fim a tudo... (é a primeira vez que falo e escrevo sobre isso), não ia conseguir, sei disso hoje. O que me segurava sempre era pensar na minha mãe na minha avó que eram as pessoas mais importantes para mim e como elas ficariam se eu fizesse aquilo.
Eu era infeliz demais, sofria bulliyng até da professora de educação física no ginásio, no Ensino Médio eu era vista como a pobre sem status que não tem um tênis ou uma roupa de marca cara. A tonta que nunca beijou, que não ia pras domingueiras porque o pai, podador, nunca deixava ela fazer nada... cansei de ouvir colegas de escola e vizinhos dizerem: coitada...
Eu ODIAVA ouvir isso...
Isso me revoltava muito e descobri no Nirvana a válvula de escape.
Meu mantra era Lithium e eu sonhava em tomar Lithium!
I'm so happy 'cause today
I've found my friends
They're in my head
I'm so ugly, but that's okay, 'cause so are you
Toda vez que me sentia deprimida ouvia essa música, tinha ela gravada do rádio, em fita K7.
Ver Cobain: Montage of Heck fez com que muitas coisas vividas voltassem com força à minha memória, coisas que não queria relembrar, coisas que queria deixar para trás, mas que sei que me afetam até hoje em minha vida.
No dia que abri o jornal e li que o Kurt tinha se suicidado eu fiquei tão passada... eu imaginava que aquilo poderia acontecer porque ele já tinha passado mal no show na Itália e aquilo me desolou... Não era possível, pra mim, ele ter feito aquilo... li o jornal e disfarcei para minha mãe, disfarcei não estar tão desolada, disfarcei como sempre disfarcei não me sentir tão mal...
A diferença entre mim e o Kurt é que não tive coragem de me matar e nunca fui mundialmente famosa, mas eu sempre me considerei muito próxima a ele, mesmo ele odiando ouvir da imprensa que seus fãs o sentiam como alguém que falava por eles. Sou de uma geração em que tudo é muito cobrado, a geração do Kurt também, acredito, e cada um consegue ou não lidar com isso. Tudo depende da ajuda que recebe e se enxerga essa ajuda.
O anjinho do Kurt, a Frances, não conseguiu modificar a situação, uma pena para ela que cresceu sem um pai que seria muito amoroso, acredito. Eu consegui virar a situação, mas sempre me escondendo, como faço aqui, escrevendo num blog e poderia ter sido num diário, como o Kurt, a questão é que realmente não sei como virei a situação, talvez tendo sido covarde em me matar ou por pensar na minha mãe e na minha avó e no sofrimento delas... talvez elas foram minhas "anjas" que me salvaram...
Minha sorte foi ter comprado o ingresso pela internet um dia antes e mesmo assim, eram poucos os lugares sobrando e o mais engraçado, justamente um vago, sozinho, num lugar que gosto de sentar: no alto e no meio da fileira.
Estava muito ansiosa para assistir ao documentário, já tinha baixado da internet e pretendia ver agora nas férias, mas como foi exibido nos cinemas, eu preferi. Adoro aquela tela enorme que dá pra notar detalhes e o clima do cinema.
Tinha ouvido falar bem do documentário sobre o Kurt e imaginei que seria bem dentro da perspectiva de alguém que viveu a época e era fã do Nirvana, quer dizer, o que eu pensava sobre ele na época e o que só veio a se confirmar com o livro Mais pesado que o Céu e agora em imagens.
No começo dos anos de 1990 eu era só uma adolescente tentado me encaixar em algum lugar e não conseguindo. Meu primeiro passo mais forte para o rock foi o Pearl Jam, culpa de Alive que via sempre o clipe na TV. Mais forte eu digo porque eu já tinha um influência vinda dos meus tios e da minha mãe que gostava de Beatles. Então, ser fã de rock não era algo surpreendente, mas para todos era rebeldia. E qual adolescente não quer se rebelar de alguma forma?
No momento que vi o clipe de Smells Like Teen Spirit fiquei hipnotizada, não parecia ser o meu estilo, mas aquilo me tomou, aqueles jovens desajustados, se debatendo, balançando cabelos, Kurt no maior estilo largado, abandonado e "não estou nem aí" fez com que me rendesse definitivamente ao Grunge.
Não, eu não me vestia com blusas xadrez, andava de skate ou qualquer outra referência. Nunca fui o tipo de mostrar em roupas o que vem na minha alma... mas hoje uso muito mais camisetas de bandas, coisa que não fazia na adolescência, até porque, para achar uma camiseta era complicado, não tão simples como hoje que qualquer um anda com a camiseta do boneco amarelo do Nirvana e nem sabe do que se trata...
Aquela raiva expressa em música me cativou e mostrou que aquele era o meu lugar no mundo: um lugar em que minhas amigas da escola não estavam, que os skatistas e o pessoal mais antenado da escola estava, mas que eu não tinha amizade. Eu era a nerd, quem quer ser amiga da nerd?
E SLTS pra mim, fala exatamente de como eu me sentia, uma albina, um mosquito, uma nerd, aquela que é renegada e que sofre bulliyng.
Ou vocês acham minha interpretação da letra totalmente nada a ver? Bem, para alguém de 16 anos, era assim e Kurt parecia ter sido o cara que sofreu bullying ou que se sentia diferente, como eu me sentia, me sentia isolada, abandonada porque queria passar na USP, porque queria namorar o Brandon Walsh de Barrados no Baile ou o Jordan Knight no NKOTB (que contraditório rs).
E que depois de perceber que eu não ia ser a garota mais legal da escola porque não usava Pakalolo, 775 e não tinha um tênis Nike ou Reebok o jeito era ficar na minha e continuar a ler (sem entender a maioria das referências sexuais) Milan Kundera ou Umberto Eco. Querendo cada vez me afastar mais daquele mundo em que vivia... da escola, da família, do bairro que sempre odiei.
Senti muito disso no Kurt lendo a biografia e vendo o documentário: ele não se encaixava, ele se fechou pro mundo, ele tinha medo de viver e perder o que tem de bom. Ele era gênio, aplicado no que fazia, mas a retração era maior, o medo do mundo, o medo da multidão de fãs, o nojo da mídia disposta a audiência o aborrecia... e muitas vezes ele era contraditório com isso... queria ser famoso, queria mostrar seu dom, mas não queria a comoção que recebeu, não queria ser um deus. Queria apenas ser ouvido, mas não adorado... adorado falsamente pela mídia, adorado falsamente pelas pessoas.
A relação dele com a Courtney Love eu também comprei como a mídia vendeu à época: ela acabou com o Nirvana e era a nova Yoko Ono, bem, que eu saiba o Chris Novoselic e o David Grohl até hoje não falam com ela... mas as cenas de amor com a filha, principalmente, mostraram a beleza do amor que existia em Cobain, lá escondido, lá guardado. Foram as cenas em que mais chorei porque, por mais que eu entenda esse lado dele, o lado de não querer amar é o que mais fazemos: amamos demais e somos apaixonados pelas pessoas. Mal compreendidos muitas vezes, mas duvido que Frances não o compreendeu revendo essas cenas... claro que ela não duvida do amor do pai, mas infelizmente, percebeu que ele foi mais fraco e deixou as vozes em sua cabeça o dominarem... aquele diabinho que falava foi mais convincente que o anjinho e Kurt fez o que não deveria...
Até hoje rezo, faço preces pelo Kurt, ele precisava de ajuda desde muito cedo, eu também precisava ter tido essa ajuda. Pensei várias e várias vezes em me matar quando adolescente e até meus 21 anos mais ou menos. Quase bebi um vidro de perfume da minha mãe, achando que aquilo poderia dar fim a tudo... (é a primeira vez que falo e escrevo sobre isso), não ia conseguir, sei disso hoje. O que me segurava sempre era pensar na minha mãe na minha avó que eram as pessoas mais importantes para mim e como elas ficariam se eu fizesse aquilo.
Eu era infeliz demais, sofria bulliyng até da professora de educação física no ginásio, no Ensino Médio eu era vista como a pobre sem status que não tem um tênis ou uma roupa de marca cara. A tonta que nunca beijou, que não ia pras domingueiras porque o pai, podador, nunca deixava ela fazer nada... cansei de ouvir colegas de escola e vizinhos dizerem: coitada...
Eu ODIAVA ouvir isso...
Isso me revoltava muito e descobri no Nirvana a válvula de escape.
Meu mantra era Lithium e eu sonhava em tomar Lithium!
I'm so happy 'cause today
I've found my friends
They're in my head
I'm so ugly, but that's okay, 'cause so are you
Toda vez que me sentia deprimida ouvia essa música, tinha ela gravada do rádio, em fita K7.
Ver Cobain: Montage of Heck fez com que muitas coisas vividas voltassem com força à minha memória, coisas que não queria relembrar, coisas que queria deixar para trás, mas que sei que me afetam até hoje em minha vida.
No dia que abri o jornal e li que o Kurt tinha se suicidado eu fiquei tão passada... eu imaginava que aquilo poderia acontecer porque ele já tinha passado mal no show na Itália e aquilo me desolou... Não era possível, pra mim, ele ter feito aquilo... li o jornal e disfarcei para minha mãe, disfarcei não estar tão desolada, disfarcei como sempre disfarcei não me sentir tão mal...
A diferença entre mim e o Kurt é que não tive coragem de me matar e nunca fui mundialmente famosa, mas eu sempre me considerei muito próxima a ele, mesmo ele odiando ouvir da imprensa que seus fãs o sentiam como alguém que falava por eles. Sou de uma geração em que tudo é muito cobrado, a geração do Kurt também, acredito, e cada um consegue ou não lidar com isso. Tudo depende da ajuda que recebe e se enxerga essa ajuda.
O anjinho do Kurt, a Frances, não conseguiu modificar a situação, uma pena para ela que cresceu sem um pai que seria muito amoroso, acredito. Eu consegui virar a situação, mas sempre me escondendo, como faço aqui, escrevendo num blog e poderia ter sido num diário, como o Kurt, a questão é que realmente não sei como virei a situação, talvez tendo sido covarde em me matar ou por pensar na minha mãe e na minha avó e no sofrimento delas... talvez elas foram minhas "anjas" que me salvaram...