sexta-feira, 31 de março de 2023

Salvem as professorinhas!

Estava tentando terminar meu rascunho dos shows de 2022, mas neste  momento temos que salvar as professoras e professores do Brasil.

O Diogo Almeida em suas redes sociais fez um desabafo muito honesto de como é a verdadeira vida de professor no Brasil, sem glamour, sem o "trabalha por amor", afinal vivemos no material world e temos que ser material girls, parafraseando Madonna.

A professor morta na Zona Oeste de São Paulo é triste. Vi gente comentando: mas uma mulher com essa idade, por que ainda quer dar aula? Parece que a culpa foi dela, porque, com a idade dela, estava no lugar errado. Não, ela não estava no lugar errado, pode ter o lado idealista como salientaram nas reportagem da TV, mas tem o lado cruel de se  aposentar e não dar pra pagar a cesta e as contas básicas.

Quando soube a idade dela, realmente, estranhei e perguntei na secretaria da minha escola: mas 71... não é aposentadoria compulsória com 70 anos? E me explicaram que ela deveria ser da famosa "Categoria O" (ou Uó, são contratados por 2 anos e não tem benefícios nenhum, duas faltas médicas por ano - se não perdem o contrato por falta etc etc etc), o categoria O pode trabalhar até os 75 (!!!).

É muito triste que todo mundo ache que sempre os professores sejam culpados por tudo: se fazem manifestação ou greve, se pedem mais direitos e ainda tem os que achem que somos doutrinadores. Num mundo onde crianças e adolescentes vivem 24 horas por dias, 7 dias da semana presos a celulares em seus aplicativos de dancinhas e redes sociais vendo gente inútil fingir ser útil, vendendo riquezas, mentiras e fake news, quem é o doutrinador?

O trabalho do professor é exatamente como o Diogo coloca: 40 alunos em sala (ou mais até), alunos especiais sem amparo. Eu estudei Letras, meu curso não teve uma preparação para alunos especiais. Já tive todo tipo de aluno com alguma especialidade, ajudava o que conseguia, mas isso não é ajudar a todos. Muitos alunos passam os 11 anos esquecidos em suas carteiras. Não por abandono do professor, falo por mim, mas por não dar conta. Não dou conta pelo número de alunos na sala. Imagina alunos de 12, 13 anos - 40 deles - enlouquecidos querendo conversar, jogar, brincar em sala e menos estudar? Como você cuida de um aluno especial nesse caos? A sala de aula no Fundamental 2 é um caos. Até essa fase meio criança, meio adolescente se acertar um pouco, é como se eu estivesse num mundo à parte. E é isso que 3 alunos meus do 7o ano fazem para poder assistir aula: se imaginam no mundo invertido (Stranger Things). 

Porque eu mesmo acho que vivo nessa realidade invertida.

O Ensino Médio é um caso de caos controlado de certa forma, a maioria se prende ao seu celular e o mundo ao redor não existe. Você pode passar filme, pode tocar música, pode fazer dinâmica, pode plantar bananeira na sala que alguns não levantarão a cabeça para saber o que acontece. Estão totalmente mergulhados em suas redes sociais, deslizando e deslizando dancinhas e besteiras postadas.

Alguns poucos prestarão atenção, mas talvez não ouçam com clareza enquanto outros falam de jogos, bailes funks etc.

Ouço muito artista falando bem do funk por aí, mas eles não entendem o que é proibidão ou não querem ver esse lado ruim do negócio? A cultura do funk que eu vejo todos os dias na escola, é a cultura da objetivação da mulher e a misoginia. A grande maioria delas não percebem o quanto são manipuladas por isso. É legal gostar de funk, você tem que participar do grupo, adolescente é assim, precisa estar no grupo, ser de um grupo, não quer ser o loser da turma. O loser da turma é quase sempre o que estuda, o nerd, e eles fazem o que podem pra desestabilizar o aprendizado do nerd: "por que esse trouxa fica aí perguntando? cala boca, meu!". Porque eles só SE ouvir. O centro do universo é cada. São totalmente egocêntricos, individualistas.

Ano passado, numa turma de 2o ano do E.M., uma aluna contava suas peripécias sexuais para as amigas em sala, e sem pudor algum, alto para que todos ouvissem, fazendo o tipo: eu não sou virgem e sou melhor que vocês. Não importa sua vida sexual, não deveria importar aos outros, só a ela e o namorado. Ao que tudo indicava, ela contou sua primeira vez e disse que foi estranho, as amigas deram conselhos e tal e ela fechou com chave de ouro com gestos obscenos e disse: pelo menos o p** dele é grande!

Eu estava com vergonha alheia da conversa, mas fiquei com vontade de responder: amiga, (como elas adoram chamar) se você não está conseguindo prazer nisso, só o cara tá se divertindo, que adianta o negócio ser grande?? 

Ela não percebe que é só mais uma que faz o que o cara quer e compra a fala dos machos: homem que tem essa obsessão por tamanho. Tamanho não quer dizer prazer! 

E elas achando que são empoderadas estão entendendo o discurso todo errado: sair e ficar no corredor na troca de aula, se exibindo o corpo não é empoderamento. É um mercado para os garotos. Vou falar isso pra elas, vão me chamar de velha, mal amada, gorda e tudo mais que puderem pra me ofender. Só não entendem que fazer um desfile de quem é a mais gostosa só os beneficia. Como sempre.

Voltando, é complicado ir a toda sala de aula e ver crianças já erotizadas, infelizmente é uma coisa que vem da falta de cuidado de pais, das famílias desestruturadas e algumas abandonadas à própria sorte. Você não vai concorrer com redes sociais, atos sexuais, bbb, influencers, funkeiros.

Neste 7o ano, como não os conhecia, no 1o dia de aula pedi uma redação sobre o que eles esperam do futuro (sempre peço isso pra turmas novas e pra ver como escrevem). Depois de anos vendo gente dizendo que querem ser médicos, advogados, veterinários, as respostas são: quero ser bilionário, quer ficar muito rico, quero ser uma influencer famosa e ficar rica, quer ganhar muito dinheiro etc.

Ninguém quer ter profissão, só querem ter algo que não sabem como chegar até lá. Alguns sabem: há jogos on line e por aplicativos de mensagem que se aposta dinheiro. Vários alunos estão se viciando. Até perderem tudo. Um aluno comprou uma chuteira, a outra aluna a mãe está felizona porque a filha ganhou 3.500 reais - como são menores de idade, precisam de uma conta bancária para receber. 

Além de chegar o momento de perder tudo e se endividar, tem o lado de seus dados estarem aí pela rede.

Então: pra que estudar se o jogo vai me dar dinheiro pra eu ter um IPhone (outra obsessão)? Pais apoiam isso, dinheiro fácil é bem-vindo e nunca desconfiam. 

A grande parcela de culpa, infelizmente, são dos pais, eles não se interessam pelos filhos. O maior interesse que a maioria tem na escola é deixar seu filho lá por umas horas para que fiquem em paz. Engraçado porque todo mundo é contra o aborto, mas aborta o filho em vida!

Eu não acredito mais na educação, já deixei meu lado mártir (como me disse uma vez um ex-namorado). Eu entendo que muita gente acha que possa ser capaz de fazer uma mudança, mas enquanto as políticas públicas de educação forem com interesses escusos, nada vai mudar, só piorar. E a politicagem não se deu conta disso: mais violência, mais desestruturação família, mais abandono, mais miséria, menos empregos qualificados e menos economia real girando...

Enquanto o Brasil for pra poucos, a maioria viverá ou se enganando que serão bilionários via jogos de azar e outros sofrerão as consequências por tentar alertá-los.

Esperança, respeito, não sei onde andam mais.