domingo, 14 de junho de 2009

Periferia - parte 1

Essa saga não é preconceituosa, é a realidade nua e crua e se você que ler isso aqui achar algum exagero, venho morar em Findomundópolis e confira com seus próprios olhos!


O que é a periferia pra mim.
Todo dia presto bastante atenção e fico vendo como as coisas se procedem, daí decidi fazer um post dessa grande terra de ninguém que eu, infelizmente, habito há mais tempo do que desejo e que sempre penso que o dia que sair, será como Carlota Joaquina: batendo o sapato e falando "dessa terra não quero nem o pó!!"
Findomundópolis tem uma grande população relegada a não ter nada decente: postos de saúde com aquelas gordas preguiçosas que não sabem nem digitar seu nome no formulário, mas sabem usar o orkut. Magrelas crentonas que te olham feio e te respondem mal. Hospitais que não funcionam com o SUS, você tem que pagar consulta - mas no meu salário é descontado quase 200 reais de inss e aí? vai pra onde isso?
Hospitais públicos que não tem médicos: nenhum quer ir trabalhar em findomundópolis, os que vão, largam logo e aí fica o hospital lá... sucateado...
Como diria a música do Racionais: não há nem um centro recreativo pra molecada brincar, nem um incentivo...E assim caminha para o buraco a periferia...
Quem tem um pouco mais de cultura ou a família consegue uma renda maior, costuma se mudar. O bairro não vai pra frente. O trem, meu amado, está cada dia pior e mais abarrotado. É preciso cada vez se acordar mais cedo para se garantir que se entre no "trenzão", porque muitas vezes ele tem problemas e aí se fica a Deus dará...
Quando passo de manhã pela estação, às vezes sou obrigada a passar por ela e não consigo: há um abarrotamento de pessoas tentando passar pelo corredor e outras tentando pegar a fila para as catracas - que quando há problemas são limitadas ou fechadas, o que enfurece o povo, mas que continua votando nos mesmo corruptos e não dá um basta nunca na má situação. Seria muito simples conseguir que fizessem uma melhoria no local de embarque, espaço tinha muito, mas limitaram para que as pessoas ficassem se atropelando - ou tentando, nem isso, com tanta gente se consegue - até nas escadas de acesso às catracas.

Escola, eu preciso falar alguma coisa? Bem, depois das fotos no antigo blog?

A coisa que eu mais fico pasma é como o povo anda pra rua o dia todo sem o que fazer - e de carro!
Sempre reparo que são muito jovens e em grupo, andando a pé ou de carro e quando é de carro fico ainda mais perplexa: carrões caros guiados por, literalmente, pés de chinelo, com bonézão, camiseta falsa de time de baseball americano ou de time de futebol nacional - internacional também, são falsas mesmo.
De onde sai o dinheiro?
Melhor não saber, mas, infelizmente imagino. Afinal, eles não tem estudo, eles mal sabem escrever e se portar para ter um emprego que dê essas condições a eles.
Vivo numa grande favela. Muitas das casas são iguais as dos clipes dos Racionais mesmo: casas de bloco, de laje ou telha de cimento, sem pintura ou barracos mesmo, tudo desproporcional e desorganizado, desordem, feio, sujo, muita sujeira na rua, muitos animais abandonados - que já disse o quanto me indigna isso. Tudo abandonado, menos os carros que fazem trânsito a todo momento.
Lembro de uma vez ter visto uma entrevista com o Netinho de Paula quando a Astrid Fontenelle tinha um programa na MTV chamado "Pé na Cozinha", ele disse que o povo na cohab (e é o mesmo "público") "não tem muito o que fazer, não tem perspectiva e vai fazendo filho". Exatamente!
Vejo a todo momento as famosas "piriguetes", na verdade, parece que a vizinhança inteira é piriguete. Há uma desvalorização muito grande das mulheres que aqui vivem: a maioria anda de shortinho, microssaia e miniblusa. Muitas não tem corpo pra isso, mas parecem que tem a obrigação de chamar a atenção, precisam ter um homem do lado a qualquer custo (e custa mesmo: a maioria quer engravidar pra não trabalhar e viver de pensão - eu sei porque já ouvi isso da boca delas no trem e na cabeleireira).
Nenhuma pensa em estudar, dar é mais fácil, parece o caminho mais rápido para ter uma "vida estabilizada".
Elas sempre andam juntas, na maior parte das vezes em duas. A dupla sempre sai com roupas curtas, na grande maioria das vezes de braços dados, olhando para todos os lados e sorrindo para todos os homens. Se algum mexe, riem e continuam olhando para eles e rebolando mais enquanto andam ou empinando os peitos praticamente pulando da pequena blusa totalmente decotada.
Além daquele piercing no umbigo comprido, ultra de mal gosto, bem vulgar, tô sendo simpática...
Muitas vezes eu falo "não consigo ver diferença nelas e nas prostitutas, acho que as prostitutas devem se vestir melhor ou pelo menos o homem sabe que vai ter que pagar, enquanto elas, o susto do pagamento é por, pelo menos, 24 anos".
Um dia desses umas discutiam no ônibus a questão da pensão, com os filhos pequenos do lado, uma menina mais esperta, com uns 9 anos, repetia o que elas diziam, já estava ficando inteirada de até quando o pai teria que pagar e que ela deveria fazer faculdade para receber até os 24. Isso se ela não engravidar antes para construir seu próprio "pé de meia".
Parece que estou sendo muito ruim ou muito preconceituosa, mas é isso que vejo todos os dias ao meu redor. E se não ouvisse eu mesma essas questões, eu não acreditaria.

Agora me veio à cabeça um "15 minutos" em que o Adnet fala da favela, que as moças andam com a roupa dez números abaixo do ideal para o tamanho delas e concordei com cada ponto que ele dizia: eu vejo isso acontecer, era real o que ele falava!

Um dia, passando de carro com uma tia e prima que moram na zl, mas no que muitos consideram o "paraíso da zl", o tatuapé, passamos perto de um lugar que foi uma das danceterias que ferveram no final da década passada, início dessa - hoje, frequentada por alunos meus - minha prima viu a roupa das meninas e ficou escandalizada e eu: "ah, elas vão assim pra escola..." ela e minha tia ficaram impressionadas com as roupas hiper curtas e vulgares.
Por isso falei da falta de valorização dessas meninas: quem não se valoriza espera viver de pensão. É também um grande comodismo, que como eu disse passa de mãe pra filha: fui criada assim, assim serei. Dificilmente quebram esse ciclo. Passam olhando para todos: pedreiro, mecânico... (não que sejam profissões ruins, cada um ganha dinheiro como pode, são honestos, mais honestos que os da roupa falsa e o carro caro...) . O que quero dizer é que vale tudo, até se for "avião", tá valendo!
Um dia estava na fila do cartório, os rapazes do cartório andam arrumados, com roupas sociais e havia umas três moças com a mãe na fila. Elas olhavam pra eles e riam, estavam ouriçadas, esses eram bons partidos. Tentavam chamar a atenção, conversavam alto, riam pra eles, tentavam mostrar mais o corpo do que já mostravam. E percebi que eles olhavam com indiferença. Eles estavam um degrau acima dos manos ou se faziam de difíceis para elas?

Falando nos manos, se acham os espertões com suas roupas de camelô falsificadas. Todo mundo anda de Adidas! Adidas virou marca de pobre! Adidas é comunista: todo mundo usa rss

Ficam o dia todo pra cima e pra baixo - como eu disse e como elas fazem.
Todo dia, pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo e com carro caro. Com som potente ou com moto das boas. Porque tem as piriguetes que adoram moto!
O som é sempre infernal, passam com o som tão alto que as portas e janelas de casa tremem e isso não é exagero! Treme mesmo! Devem estar surdos, ou quase lá... tudo isso para mostrar o som - o som que vão levar pra Praia Grande depois rs
Claro, sempre tocando funk! Não há dúvida! Se não for funk vai ser axé. Depois vem o pagode nessa lista e depois o sertanojo.Nunca será Chico Buarque rss E eu nunca ouvi um Rolling Stones que seja, nem um Nirvaninha! Um Creed que seja! rs
Ouvem também muito rap!

por hoje, paro aqui rss
Mas com uma última observação que é muito real, daquela comunidade do orkut: piriguete não tem frio!
Realmente, super frio e elas "peladas" pela rua... blusa de frio e short ou calça e blusa super decotada...
e claro, o inevitável bom gosto de andar de chinelo plataforma rs